Medidas econômicas do governo brasileiro para superar a crise e a Taxa Selic.
Desta vez é diferente. Com a COVID-19 desacelerando a economia nos diversos países ao redor mundo, as medidas imediatas adotadas por diversos governos para conter uma crise de liquidez no sistema financeiro envolvem uma injeção pesada de crédito junto às instituições financeiras e a adoção de medidas protetivas para a preservação do emprego e renda da população.
Esta lição foi aprendida após a crise de 2008, para reduzir o choque econômico advindo da crise e tornar os países resilientes para retomar a normalidade das suas atividades no curto prazo.
Ricardo Artur Spezia
Neste “pacotão econômico” o governo federal brasileiro liberou, em capital e liquidez no sistema financeiro, um montante equivalente a aproximadamente à 1,2 trilhões de reais, o que equivale a 16,7% do PIB nacional – ao contrário de 2008, em que foram inseridos 117 bilhões de reais na economia. Este dinheiro será utilizado principalmente para capitalizar pequenas, médias e grandes empresas, preservar a renda e evitar a inadimplência de pessoas físicas e jurídicas. As medidas anunciadas em 23 de março de 2020, podem ser visualizadas com mais detalhes aqui.
O lado bom desta crise para os empreendedores brasileiros é a possibilidade de captação de crédito para atender as necessidades de capital de giro e expansão futura a um custo barato, considerando o histórico de taxa de juros do país. Existem diversos instrumentos financeiros para capitalizar à operação da empresa, tais como a cessão de direitos creditórios, emissão de debêntures, warrants, ações, entre outros. Porém, vamos tratar especificamente em empréstimos de curto e longo prazo.
O custo do crédito junto às instituições financeiras é lastreado pela Taxa de Juros Selic, instituída pelo Banco Central do Brasil (Bacen). Uma taxa de juros baixa é importante para o país crescer economicamente. Veja na Figura 1 a evolução do comportamento da Taxa de Selic do país nos últimos 10 anos.
Se considerarmos os últimos 20 anos na análise da série histórica, veremos que a Selic permaneceu por um longo tempo com valores entre 10% e 20%, e ainda, chegou a alcançar o patamar máximo de 45% em 1999, após a sua instituição como Taxa Básica de Juros do país. Uma taxa de juros alta encarece a captação de empréstimos bancários pelas empresas. Assim, hoje, esta taxa nominal de juros que baliza as taxas praticadas no mercado de crédito, está em sua mínima histórica.
Este fato reforça que o governo atual possui uma diretriz econômica de política monetária com foco no estímulo do nível de investimento das empresas e o consumo das famílias, reduzindo o custo do capital das pessoas físicas e jurídicas, por meio da Taxa Selic.
Custo de captação do crédito privado junto às instituições financeiras.
Um ponto importante para você decidir, empresário, é compreender quais são as taxas de juros praticadas no mercado pelas instituições financeiras neste momento, e escolher qual o melhor instrumento financeiro a ser emitido ou captado para capitalizar a sua organização. Com base nos dados do Bacen, organizamos por categoria na Tabela 1 as principais taxas de juros praticadas por modalidade de crédito, com base nos meses de março/abril de 2020.
O que se pode notar a partir da Tabela 1 acima é que há uma diversidade de instrumentos de captação de crédito de curto prazo para as pessoas jurídicas, tais como adiantamento de contratos de câmbio, capital de giro para até 365 dias pós-fixado ou prazo superior a 365 dias pré-fixado desconto de duplicatas e vendor pré-fixado, com preços muito competitivos do ponto de vista histórico. Uma dica: pesquise as taxas históricas praticadas por instituição no site do Banco Central do Brasil.
O crédito na praça está barato. Entre os pontos positivos, ressalta-se que ao captar novos empréstimos com esse nível de taxas de juros você empresário poderá:
- Reduzir o seu custo médio ponderado de capital;
- Atender as necessidades de capital de giro da empresa;
- Criar uma reserva de caixa para criar uma “folga financeira”; e
- Financiar projetos futuros de investimentos para agregar valor às operações da empresa.
Porém, ressalvamos que estas decisões devem ser balizadas por meio de um planejamento financeiro de curto e de longo prazo. Além disso, deve-se tomar cuidado ao assinar contratos de empréstimo neste período, pois há um conjunto de instituições que aumentaram o custo do empréstimo pelo aumento do risco de crédito e inadimplência no país, cedendo recursos a um custo não muito atrativo.
Entre os pontos negativos da captação de crédito, ressaltamos duas situações:
- O risco das operações dos negócios aumentou neste período de incerteza econômica, então, uma captação de recursos externos desmedida pode acarretar em um alto nível de despesas de juros e de amortização de empréstimos, ou de não suprir as necessidades de capital de giro, o que pode afetar negativamente o fluxo de caixa da empresa;
- Apesar de haver um conjunto amplo de crédito disponível nos bancos, advindos de medidas econômicas, os bancos irão fortalecer as restrições de empréstimo para evitar um aumento da inadimplência. A empresa deve estar organizada financeiramente para se capitalizar e alinhada junto à seus fornecedores e sua cadeia de suprimentos, de forma a alocar o recurso captado para uma finalidade planejada e não incorrer em novas necessidades de capital de giro em um curto espaço de tempo, tomando cuidado para não gerar restrições financeiras junto aos bancos – o crédito será limitado.
Por fim, acreditamos que, apesar de dificuldades econômicas serem colocadas à nossa frente e que continuarão existindo por um tempo pós-crise, tudo irá passar e voltar ao normal. Toda crise tem um começo, meio e fim. E, no nosso caso, poderemos passar por ela com uma oportunidade única de capitalização de nossas empresas com um custo de crédito barato. Portanto, aproveite todas as oportunidades que o mercado lhe der.
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