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Para Krugman e Delfim, Brasil não está tão vulnerável assim

São Paulo – O economista norte-americano e Nobel da Economia Paul Krugman não acha que o Brasil é tão vulnerável quanto estão dizendo:

“Os emergentes são agora muito mais resilientes do que no passado. O Brasil já não é vulnerável faz um bom tempo, e há razões para isso.”

Entre elas, ele citou o perfil da dívida externa, mais cotado em moeda local, o que diminui a exposição do país aos choques externos.

As declarações foram feitas no Fórum Brasil, promovido pela revista Carta Capital em São Paulo. O ex-ministro Delfim Netto, que falou em seguida, concordou:

“Não tem nada aqui que indique uma tragédia. As pessoas hoje não se conformam não é com o presente, é com o futuro que elas colocaram na cabeça.”

Para Delfim, o relatório do Fed que colocou o Brasil entre os emergentes mais vulneráveis foi uma “espécie de vingança” contra o ministro Guido Mantega, que criou a ideia de guerra cambial na época em que os recursos do banco central americano inundavam o mercado dos emergentes.

Para Krugman, mesmo que o problema fosse esse, a luta seria em vão: “Janet Yellen não passa um segundo do seu tempo se preocupando com o que as politicas do Fed farão por aqui ou como o Brasil responderá.”

Ele também criticou o termo BRICS (“difícil encontrar países que tenham tão pouco em comum”) e disse que o mundo se decepcionou com o Brasil porque houve um excesso de euforia:

“As pessoas compraram uma história que era ainda melhor do que a realidade. É uma narrativa familiar que geralmente acaba muito mal: aconteceu na América Latina nos anos 80, na Ásia no final dos anos 90, no leste e sul europeu, etc.”

Delfim concordou: “Os mercados são como nós: se apaixonam muito depressa, e se cansam muito depressa também. Se você hoje é o queridinho dos mercados, é o principal candidato para deixar de ser em um futuro muito próximo.”

Cenário mundial

Krugman não é tão otimista em relação ao resto do mundo. Falando de como os Estados Unidos reagiu à crise de 2008, ele levantou um de seus temas preferidos – a disfunção do Congresso:

“Nos EUA, a politica fiscal não pode complementar a politica monetária, como seria desejável. Isso é impossível politicamente porque um dos nossos partidos é, e eu acho que o termo técnico é: loucos de pedra. Tudo que o presidente Obama apoia é automaticamente oposto, até coisas que eram defendidas pelos republicanos no passado.”

O problema, no entanto, não é só conjuntural. Krugman defendeu a ideia de que os Estados Unidos vivem uma “estagnação secular”, ou seja: o período de baixo crescimento e inflação é o “novo normal” e veio pra ficar.

A tecnologia é uma das culpadas, já que “explorar os ganhos tecnológicos hoje não exige tanto investimento e não emprega tanta gente.” A tese ganhou força recentemente ao ser citada por figuras importantes como Lawrence Summers.

Na Europa, o risco de catástrofe – previsto pelo próprio Krugman – está afastado por enquanto, e ele nomeia o responsável: “Em duas palavras: Mario Draghi. Isso aconteceu porque ele disse as palavras mágicas: o que for necessário.”

Para Krugman, o maior risco atual para a economia mundial é o alto nível de endividamento chinês. Ele colocou em cheque os próprios números do país: “Todas as estatísticas econômicas são uma ficção cientifica chata, mas as chinesas são ainda mais. Nem o governo sabe se é verdade.”

Cenário interno

Para Delfim, a diferença de entendimento entre o governo e o mercado está prejudicando nosso crescimento: “Nas concessões, o governo não entendeu que você não pode estabelecer taxa de retorno e investimentos. Já o mercado entendeu mal um desejo absolutamente sadio do governo: a modicidade tarifaria. E não é do mundo esse problema: nós o construímos internamente.”

Ele também concorda que o controle de preços é nocivo e que a contabilidade criativa está na origem de alguns dos desconfortos: “aquela quadrangulação em 2012 foi demais até pra mim, que apoiava o governo.”

Para Delfim, o cenário mundial fraco delineado por Krugman só prova que a resolução para nossas questões terá que vir de dentro:

“O crescimento depende hoje da melhora da produtividade do trabalho – quem vai fazer isso é o setor privado, não é o governo. (…) E não tem nenhuma grande coisa esperando lá fora. Se o Brasil quiser crescer, tem que entender que o mundo não vai nos ajudar”.

Fonte: Revista Exame
http://exame.abril.com.br/economia/noticias/para-krugman-e-delfim-brasil-nao-esta-tao-vulneravel?page=1