Notícias • 4 MIN DE LEITURA

Na contramão dos mercados, Warren Buffett investe em jornais

Terceiro homem mais rico do mundo comprou o ‘Tulsa World’, fundado em 1905 – segundo jornal de maior tiragem no estado de Oklahoma.

O megainvestidor Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes, adquiriu há apenas alguns dias seu 28º jornal, continuando com sua aposta na imprensa escrita e seguindo o caminho inverso dos investidores convencionais. Durante os últimos dois anos, Buffett comprou, através da BH Media Group (uma subsidiária de seu grupo Berkshire Hathaway Inc.), vários jornais locais nos Estados Unidos, revistas e publicações online.

A última aquisição de Buffett, conhecido como ‘o oráculo de Omaha’ por causa de sua cidade natal e da sua visão como investidor, é o ‘Tulsa World’, fundado em 1905 e o segundo jornal de maior tiragem no estado de Oklahoma, onde 90.000 cópias diárias são vendidas nos dias semanais e 130.000 nos domingos. “Em cidades onde há um forte sentimento de comunidade, nenhuma instituição é mais importante que o jornal local’, explicou Buffett no ano passado após a compra, por 142 milhões de dólares, da divisão de jornais do grupo Media General, de grande importância no sul dos EUA.

O empenho de Buffett em investir em um setor duramente afetado pelo boom das alternativas digitais e pela queda da publicidade não é um mistério para o diretor associado do Projeto para a Excelência do Jornalismo, Mark Jurkowitz. “Certamente ainda há possibilidades de conseguir lucro dos jornais, e Warren Buffett, que é um investidor muito experiente, sabe disso’, disse Jurkowitz à agência EFE. De acordo com o diretor, uma das tendências que explicam a forte aposta de Buffet na imprensa local. “A primeira é de que o preço pelo qual um investidor consegue adquirir um jornal hoje é muito inferior ao de dez anos atrás, e, no entanto, os jornais continuam sendo vendidos. Portanto, se compra por bom preço, há muitas garantias de que, pelo menos, irá recuperar o investimento”, disse Jurkowitz, para quem , os problemas econômicos dos jornais tem a ver com uma dívida adquirida durante anos – e não por falta de viabilidade econômica.

“A segunda, e por onde acho que vai a aposta de Buffett, é que nos pequenos e médios mercados – fora das grandes concentrações urbanas -, os jornais continuam e continuarão sendo o elemento fundamental para a geração de informações’, acrescentou. Para Jurkowitz. Buffett limitou seus investimentos a jornais pequenos ou médios, de tiragem local, iniciativa que pode ser explicada, segundo Jurkowitz, pela flexibilidade de controlar os custos. “Os jornais pequenos muitas vezes se encontram com uma situação de quase monopólio em suas comunidades e com maior flexibilidade para controlar os custos, tornando-os mais resistentes que os grandes, entre os quais existe uma concorrência feroz, e que geram custos gigantescos dos quais é muito difícil se desprender”, explicou Jurkowitz.

O analista de mídia Ken Doctor também destacou a viabilidade da imprensa local e afirmou que Buffet não investe em meios de comunicação para ganhar poder, mas porque acredita em lucro a longo prazo. “Está comprando muito barato e considera que pode tirar proveito”, disse Doctor. “Todos os jornais de Buffett aumentaram o preço da edição impressa e lançaram a taxa de acesso à internet. Eles fixam a esperança nas receitas derivadas do acesso multiplataforma. Embora este seja um bom plano a três ou cinco anos é preciso seguir com a reestruturação, reduzir custos estruturais e desenvolver uma oferta diversa e potente de produtos digitais”, acrescentou.

Apesar de tudo, os dois analistas não descartam um certo ‘sentimentalismo’ nas compras de Buffett, que deu seus primeiros passos empresariais distribuindo jornais em sua cidade natal e lê atualmente até cinco jornais por dia, segundo declarou o mesmo em várias ocasiões. Buffett investe em um setor fortemente castigado por uma crise que nos Estados Unidos, onde são fechados por anos entre 14 e 21 jornais. Esse mercado também quase não lança novas publicações e emprega cada vez menos pessoas: em 1989, empregava 56.900 pessoas; em 2010, a 41.600, segundo dados do Projeto para a Excelência em Jornalismo.