Intuição, visão estratégica e consultoria. Conheça o caminho internacional traçado pela estilista brasileira.
Patricia Bonaldi é a fundadora e estilista brasileira à frente da marca de moda Pat Bo. Com 11 lojas próprias no Brasil e uma recém- inaugurada em Nova York (US), ela está presente em 25 países, entre eles, a França e os Emirados Árabes, além de ter conquistado mais de 300 pontos de venda ao redor do mundo. Conhecida por suas criações ousadas e destemidas, a internacionalização de sua marca começou de forma orgânica e experimental, mas a longo prazo se desdobrou em um planejamento impecável, transformando a experiência e o aprendizado, em uma fórmula aplicável na gestão do seu negócio como um todo.
Daniela Pizetta: Você pode nos falar um pouco sobre a origem da sua marca, Pat Bo?
Patricia Bonaldi: A Pat Bo é uma marca brasileira que tem o talento criativo, o bordado manual e o domínio do saber fazer como características. Minhas coleções nasceram antes mesmo de ter uma marca, pois desde adolescente eu mesma inventava minhas roupas e transformava em realidade com a ajuda de costureiras locais. Evoluiu rapidamente para um negócio em função da demanda de pessoas que queriam a mesma peça que eu vestia. Neste momento percebi uma oportunidade e abri uma loja multimarcas na minha cidade natal, Uberlândia (MG). Ao longo do processo, amadureci como estilista, parei de vender outras marcas e hoje a Pat Bo existe para trazer o encantamento da moda para a vida real. Tenho uma verdadeira paixão pelos processos artesanais e disposição para construir a moda através de técnicas manuais aplicadas com alma e excelência.
DP: Em que ano a marca se estabeleceu em São Paulo?
PB: Em 2012. Abri um ateliê nos Jardins, e logo depois a primeira loja, mas mantive minha fábrica em Uberlândia.
DP: Qual foi seu primeiro passo com a marca rumo ao mercado internacional?
PB: Com o apoio da Apex, em 2015 participamos de uma feira de moda em Madrid e saí de lá com minha coleção em uma das maiores lojas de departamentos do mundo, a inglesa Harrods. Foi minha primeira exportação e meu primeiro ponto de vendas fora do Brasil. Eu não estava 100% pronta, mas precisava desta confirmação.
DP: A que atribui este sucesso imediato?
PB: Foi uma mistura de fatores. Mas a verdade é que o produto se destacou entre tantas outras marcas. Acredito que minha paixão por misturar elementos da cultura brasileira com um estilo de moda global foi uma ótima combinação. Por outro lado, o timing foi perfeito, seguido de um desejo de empreender, incontrolável.
DP: Uma vez na Harrods, como foi a aceitação do produto neste primeiro ponto de venda fora do Brasil? PB: Foi incrível. Na época, minha marca era forte no segmento festa, então foi posicionada no “Evening Floor” da Harrods, ao lado de outras marcas dedicadas ao mesmo segmento. Performou bem e com esta exposição global e bons resultados, conseguimos outros pontos de venda no Oriente Médio, e este foi o começo.
DP: Uma vez lá, o que fez para se manter?
PB: Tenho um olhar para o comportamento humano e me cerco de profissionais capazes de apontar uma direção assertiva. Depois de alguns anos percebi que o mundo estava caminhando rapidamente para um estilo “casual”. Foi neste momento que teve uma virada de chave no meu posicionamento: apliquei atributos dos vestidos de festa em peças casuais e criei uma moda atual, para uma mulher que não tem medo de se expressar. Acredito que por isso a Pat Bo é tão especial, pois com tanta oferta, apresentamos algo muito único, toda roupa conta uma história. Depois disso comecei a me preparar para abrir também o meu negócio (não somente meu produto), para o mercado internacional.
DP: Desde 2021 você apresenta suas coleções em uma das mais importantes semanas de moda do mundo, a New York Fashion Week (NYFW). Com foi este processo?
PB: Durante todo o meu processo abrindo frentes internacionais, uma das últimas coisas que fiz foi entrar na semana de moda de NY. Primeiro, abri meu próprio showroom na Big Apple e fiz muitos outros pelo mundo, com isso abri muitos pontos de venda e gerei receita e experiência. Existe um mito de que na indústria da moda você precisa começar dando um “show”. Mas nos Estados Unidos, se você não é um negócio bem resolvido, você nunca será uma marca. Uma marca só é incrível se ela traz resultados, e não porque desfila em uma semana de moda internacional.
DP: Sempre um passo de cada vez.
PB: Sim. Gosto de processos orgânicos, mas percebo a hora de levar para o próximo nível.
DP: Pode nos dar um exemplo?
PB: Depois que abri meu showroom nos Estados Unidos e a Pat Bo já estava presente nas melhores multimarcas e lojas de departamento do mundo, senti que era hora de abrir uma loja própria em Nova York. Mas a verdade é que antes de tudo isso, eu havia contratado uma *consultoria especializada em internacionalização de marcas e tive muita ajuda estratégica até abrir a loja. Foi preciso um processo de aculturamento, desde a contratação de pessoas até os processos legais. No Brasil conseguimos ser experimentais do começo ao fim, improvisamos e somos muito criativos. Mas fora, este formato não funciona. O melhor da experiência como um todo, é que aprendi como fazer tudo que já tinha feito, mas de um jeito diferente e organizado. Absolutamente tudo que aprendi neste processo, apliquei no meu negócio aqui no Brasil, e isso só nos fortaleceu.
DP: Você levou sua equipe do Brasil para lá?
PB: Não, apesar de existir uma troca constante de informação, lá temos uma empresa totalmente desvinculada da empresa brasileira e contratamos apenas americanos. De forma geral, nós não “traduzimos” o nosso negócio do Brasil para lá, ou seja, é um novo mindset. Assim como aqui, lá também temos a operação toda bem resolvida e uma equipe Comercial e de Marketing forte. Nosso showroom é também nosso headquarters e fica em um espaço de 1700m2 na 5ª Avenida.
DP: Em 2021 você inaugurou sua primeira loja fora do Brasil.
PB: A loja de NYC foi outro grande processo de aprendizado, e apesar da minha cliente encontrar Pat Bo no mundo todo, eu senti a necessidade de proporcionar a ela uma experiência completa com a marca. Porém, é importante dizer que a loja física só veio depois que a marca estava bem madura. De fato, foi a última etapa do processo de internacionalização. Como próximos passos, estamos abrindo uma segunda loja nos Estados Unidos, desta vez em Miami dentro do Design District.
DP: Depois de ter conquistado a América do Norte, pretende fazer o mesmo caminho em direção a Europa?
PB: Já temos um warehouse em Portugal e é de lá que nossas coleções seguem para todos os nossos pontos de venda.
DP: Sua produção é toda no Brasil, pretende continuar assim?
PB: Sim, este é um dos maiores bens da Pat Bo: o “made in Brazil”. Nossa fábrica de Uberlândia tem mais de 500 colaboradores e lá tenho também uma escola de bordados. Ensinamos absolutamente tudo que sabemos. Nosso time qualifica mulheres de todas as idades para o trabalho, e consequentemente, cooperamos para preservar técnicas manuais de bordado. Este ano vamos abrir também uma escola de costura e estará aberta a todos que quiserem aprender esta profissão.
DP: Você tem 1.2M de seguidores em uma rede social, isso te define também como uma influenciadora. Como consegue dar conta do trabalho e das demandas desse mundo moderno?
PB: Acho que uma coisa é consequência da outra. Antes de ter uma marca de moda, eu não era uma “pessoa digital”. A primeira mídia social que tive foi o Instagram e aprendi a usá-la de forma intuitiva. Hoje me comunico naturalmente por ela e encontrei mina voz e meu público. Minha marca também é forte online. Além do e-commerce, a Pat Bo está com quase 1M de seguidores.
DP: Ainda tem algum sonho como criativa e empresária?
PB: Sonho em ensinar tudo que sei, pois o que aprendi não se aprende apenas em escolas. Espero encontrar uma forma de passar meu conhecimento adiante. Quero ensinar como administrar, como fazer marketing, como vender e como se reinventar sempre que preciso for, pois o mundo não para!
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