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Brasil Insight nº 1 — Julius Wiedemann

Julius Wiedemann nasceu no Brasil, mas viveu a maior parte de sua vida bem distante, no Japão, no Reino Unido ou na Alemanha. Editor-sênior da Taschen e curador-chefe da Domestika, ele é um nome de peso na área da cultura que recentemente retornou à sua terra natal e pretende ficar, porque vê um oceano de oportunidades em uma série de setores.

Após morar em várias partes do mundo, por que você decidiu voltar para o Brasil?

Julius Wiedemann: Estou tentando voltar há um bom tempo. Vejo oportunidades, coisas que podem ser feitas e um grupo cada vez maior de pessoas comprometidas em fazer as coisas. Por 10 anos, eu pegava entre 80 e 120 voos por ano. Eu dormia em todos os lugares e não morava em nenhum. A pandemia, na verdade, me forçou a ir morar no Brasil. Passei seis meses em Trancoso com minha família, depois voltamos para São Paulo e agora nos dividimos entre os dois.

Nos últimos anos, encontrei frequentemente brasileiros que levavam a sério o que faziam e tinham boas ideias, por isso fui atraído a voltar. Uma coisa que não falta no Brasil é criatividade, mas se ele é campeão em alguma coisa, é em oportunidades perdidas. E eu não digo isso levianamente. É um lugar onde você olha e pensa: “Por que ninguém fez isso ainda?”. Tudo é possível.

Quais oportunidades você vê?

JW: Eu vejo muitas oportunidades na educação. Em fintech, por exemplo. O Brasil não é uma sociedade focada em bancos, então há muitas oportunidades em finanças. Investimento em pessoas, poder pagar em parcelas e não usar cartão de crédito ou fatura eletrônica todo mês. As pessoas estão se tornando mais conscientes das deficiências do país e criam negócios relacionados ao que está faltando.

A distribuição é um pesadelo no Brasil, então há oportunidades aí. E as pessoas sempre falam de mercado de luxo, mas ele representa apenas 0,1 por cento dos negócios. O que vemos é uma classe média crescente, especialmente no centro do país. Se você for ao interior de São Paulo, há marcas que você nunca ouviu falar, como o macarrão Dallas, que movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano.

Como você descreveria o cenário corporativo brasileiro?

JW: É um ambiente que te ensina muito. Tenho um amigo que é presidente da Bunge e que foi o CEO que levou a empresa de R$ 1 bilhão para R$ 10 bilhões de faturamento. Ele está nos conselhos internacionais da Pepsi e da Bayer. Ele me contou uma história interessante que se você quer ser CEO global da Bunge, primeiro você tem que ser o CEO da Bunge Brasil por cinco anos, porque para navegar neste país é preciso ser muito inteligente.

Você tem que pensar muito e rápido sobre as coisas, então é uma boa escola. Muitas coisas são complicadas do ponto de vista emocional e técnico. As leis tributárias podem ser complicadas, as leis trabalhistas estão melhorando um pouco, mas ainda são difíceis, e a distribuição não é fácil. Por outro lado, se você tem tamanho e a ambição de fazer as coisas na América Latina, não há melhor laboratório que o Brasil.

E na cultura?

JW: Há uma sinalização positiva. No Brasil, sempre houve a ideia de que a cultura tinha que ser subsidiada. Agora consigo ver o fim da era desse tipo de estrutura. As pessoas terão que aprender como misturar cultura e negócios. É algo positivo quando você começa a misturar cultura com entretenimento.

Os americanos fizeram isso, os britânicos também. É apenas uma questão de perder um pouco do preconceito. Porque algo é feito com o apoio do dinheiro privado, não significa que você esteja diminuindo o trabalho do artista. Há muito território onde arte e comércio podem se unir. O financiamento do governo tem o seu lugar, mas não é justo usar dinheiro que deveria ir para as escolas ou para o sistema de saúde.