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Desglobalização: pensar localmente, agir localmente?

O que está realmente impulsionando a desglobalização em um mundo de slogans cativantes.

Depois de um intenso fluxo de globalização desde o final da Segunda Guerra Mundial e um período de hiper-globalização entre 1990 e a crise financeira global de 2008, vivenciamos a chamada era da “slowbalization”. Essa redução do comércio no Produto Interno Bruto (PIB) global pavimentou o caminho para o que agora chamamos de “desglobalização”. Historicamente usado para descrever períodos de declínio do comércio econômico e investimento entre países, o que a desglobalização significa para a economia global hoje? E por que agora? Desde a realocação de produção até as tensões geopolíticas, há inúmeros fatores a considerar ao abordar a diminuição da integração econômica global.

O Fórum Econômico Mundial sugere que o recente aumento da desglobalização pode estar ligado à pandemia de COVID-19, à guerra na Ucrânia e ao impulso pela energia renovável. Tais eventos recentes prejudicaram as cadeias de valor globais, incentivando governos e corporações a buscarem parceiros confiáveis localmente. Essas mudanças devem ter um efeito dominó nos mercados financeiros e na economia global. Mas há mais na história. Um fator impulsionador claro inclui a diminuição notável no investimento direto estrangeiro (IDE).

Optando por financiar mais os mercados locais, os investidores estrangeiros estão se retirando do mercado global em massa. Essa redução substancial do investimento em mercados internacionais tem impactado significativamente o crescimento econômico global nos últimos anos. As empresas também estão se inclinando mais para a produção local, realocando mais perto de casa e contribuindo para a redução no comércio internacional. Isso tem um efeito óbvio nos países que dependem desse comércio, levando a um possível aumento do desemprego e menor crescimento econômico. Outro componente a considerar é a maior acessibilidade dos avanços tecnológicos.

Com o mundo em nossas mãos, a necessidade de viagens físicas foi bastante reduzida, com as empresas sendo capazes de funcionar quase inteiramente online. Isso aumentou durante a pandemia de COVID-19, quando as empresas perceberam a eficácia do trabalho remoto – vendo menos dinheiro gasto em viagens, espaço de escritório e até mesmo pessoal. Assim disse o governo do Reino Unido: “Fique em casa, salve vidas”, mas talvez não seu emprego.

Então temos o grande debate energético, com as nações sendo instadas a tomar medidas climáticas. Ao fazer isso, percebemos a importância de reduzir o transporte intensivo em carbono e o preço dos combustíveis fósseis, sem falar em seu impacto ambiental. As energias renováveis domésticas são, portanto, preferíveis, enquanto uma maior conscientização sobre nossas pegadas de carbono pode estar contribuindo para o aumento da desglobalização na tentativa de ‘Salvar a Mãe Terra’. Embora uma mudança precisa possa ser difícil de identificar, a desglobalização pode certamente ser vista entrelaçada em enxames de bonés de beisebol vermelhos e rabiscada de forma frouxa em ônibus britânicos.

As filosofias por trás de tais chamados cativantes como “Faça a América Grande Novamente” ou “Traga de Volta a Grã- Bretanha” podem apelar para certos indivíduos e empresas, mas estão vulneráveis às inevitáveis armadilhas do protecionismo. O aumento das desigualdades entre os países tem o poder de desarmar a estabilidade social e política, com amplo conflito sociopolítico; financeiramente e ambientalmente.

Um mundo em estado de ‘desacoplamento consciente’, com contas bancárias separadas e divórcios complicados. É claro que esses slogans otimistas escondem as complexidades deste fenômeno, com potencial para impactar seriamente as tendências financeiras e a economia global. Onde a desglobalização continua a ganhar força, o que isso significa para o seu negócio? Vamos tomar decisões via política em vez de economia? Nos vemos nos realocando fisicamente para um mercado ‘mais amigável’ ou visamos ser totalmente autossuficientes? Como diz outro ditado, é preciso uma aldeia para criar uma criança. Mas o que é preciso para nutrir uma economia global?