A nova série Os Mercados compara mercados brasileiros a equivalentes internacionais, com o objetivo de proporcionar a nossos leitores oportunidades inesperadas, dentro e fora da maior economia da América Latina. Nesta edição de introdução, adotamos uma visão macroeconômica do que está acontecendo nas esferas nacional e global para delinear o cenário, antes de percorrer alguns dos setores mais fascinantes do mundo.
Brasil
Apesar das dificuldades enfrentadas com o COVID e da desconfiança generalizada em relação ao governo nacional, a economia do Brasil na verdade cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021. Mais rápido do que esperavam os economistas, os serviços e os investimentos levaram a maior economia da América Latina de volta aos padrões anteriores à pandemia. Passados três trimestres consecutivos de crescimento, em uma entrevista recente, Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management em São Paulo, disse: “isso torna as perspectivas para os próximos trimestres muito positivas”. Os indicadores de emprego no Brasil também parecem relativamente saudáveis após uma recuperação, passando de 81,6 milhões em agosto de 2020 para quase 88 milhões em junho deste ano.
O real chegou a 5,15 dólares e atualmente está em 5,23, uma forte recuperação desde março passado. Economistas do Citi e do Goldman Sachs aumentaram suas previsões de crescimento do PIB em 2021 para 5,1% e 5,5%. E Paulo Guedes, ministro da Economia, o confirmou com sua própria previsão, de entre 5% e 5,5% em julho.
O crescimento do Brasil no primeiro trimestre foi impulsionado por serviços, indústria e investimento de formação bruta de capital fixo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agropecuária cresceu 5,7% no trimestre, o salto mais rápido em quatro anos. A indústria expandiu 0,7%, o dominante setor de serviços cresceu 0,4% e a formação bruta de capital subiu 4,6% no trimestre.
Os economistas alertaram, no entanto, que uma política fiscal mais restritiva, o aumento das taxas de juros e a incerteza em torno da pandemia são riscos que poderiam levar a um crescimento mais conservador em 2022.
No Mundo
O acesso à vacina divide a recuperação global em dois campos – os que podem esperar mais normalização, já este ano, em economias mais avançadas e os que ainda enfrentam um aumento dos casos de COVID e consequentes mortes.
Assim, a projeção é de que a economia global cresça 6% em 2021 e 4,9% em 2022.
As perspectivas para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento foram reduzidas para 2021, especialmente na Ásia. Em contraste, a previsão para as economias avançadas foi revisada para cima.
As recentes pressões refletem desenvolvimentos incomuns relacionados à pandemia. A inflação deve retornar aos seus níveis pré-pandemia na maioria dos países em 2022. Também é esperada uma inflação elevada em alguns mercados emergentes. Golpe duplo para mercados emergentes e economias em desenvolvimento, uma deterioração das dinâmicas devido à pandemia e condições financeiras externas mais restritivas atrasariam seriamente sua recuperação e arrastariam o crescimento global abaixo da previsão atual.
| Projeção de Crescimento individual do país (%) | 2020 | 2021 | 2022 |
|---|---|---|---|
| Mundo | -3.2 | 6.0 | 4.9 |
| — | |||
| Economias avançadas | -4.6 | 5.6 | 4.4 |
| EUA | -3.5 | 7.0 | 4.9 |
| Zona Euro | 6.5 | 4.6 | 4.3 |
| – Alemanha | -4.8 | 3.6 | 4.1 |
| – França | -8.0 | 5.8 | 4.2 |
| – Itália | -8.9 | 4.9 | 4.2 |
| – Espanha | -10.8 | 6.2 | 5.8 |
| Reino Unido | -9.8 | 7.0 | 4.8 |
| Canadá | -5.3 | 6.3 | 4.5 |
| Outras economias avançadas | -2.0 | 4.9 | 3.6 |
| — | |||
| Emergentes/em desenvolvimento Ásia | -0.9 | 7.5 | 6.4 |
| China | 2.3 | 8.1 | 5.7 |
| Índia | -7.3 | 9.5 | 8.5 |
| — | |||
| Emergentes/em desenvolvimento Europa | -2.0 | 4.9 | 3.6 |
| Rússia | -3.0 | 4.4 | 3.1 |
| — | |||
| América Latina | -7.0 | 5.8 | 3.2 |
| Brasil | -4.1 | 5.3 | 1.9 |
| México | -8.3 | 6.3 | 4.2 |
| — | |||
| Oriente Médio e Ásia Central | -2.6 | 4.0 | 3.7 |
| Arábia Saudita | -4.1 | 2.4 | 4.8 |
| — | |||
| África Subsaariana | -1.8 | 3.4 | 4.1 |
| Nigéria | -1.8 | 2.5 | 2.6 |
| África do Sul | -7.0 | 4.0 | 2.2 |
Fonte: FMI
O Brasil está em meio a uma sólida recuperação pós-COVID, mas a previsão para 2022 é mais conservadora do que em qualquer outra grande economia. O ano que vem pode trazer mais insegurança, inclusive se levarmos em consideração a turbulência inevitável de uma eleição nacional em um momento em que o país anseia por estabilidade. Além da política, é vital que setores de forte crescimento, como agricultura e manufatura, ajudem a sustentar uma perspectiva que de outra forma seria incerta.